domingo, 28 de março de 2010

Os sonhos...

Uma tarde comum, um dia comum. Rodeado por adolescentes diferentes de mim. Alguns amigos, muitos conhecidos. Ninguém como eu.
Um idiota me diz: "ele morreu"! E ri.
Reajo com uma ofensa qualquer. Não é verdade, tenho certeza que não é verdade. Mais uma vez, um sorriso malvado de alguém que, de alguma forma, gostaria de me ferir mas não tinha coragem de me combater. Reajo novamente, ameaço e saio. Será? Não, não pode ser.
Ligo o rádio ouço uma canção: estranho! Muda a estação e outra música. Começo a acreditar! Na terceira rádio seguida que seleciono, novamente uma música. Naquele momento eu tive certeza de que era verdade. O idiota estava certo! Ele havia morrido! Naquela época não tocavam músicas dele no rádio, exceto em algumas raras madrugadas.

No dia 11 de outubro de 1996, eu descobri que haviam sonhos que jamais se realizariam. Naquele dia eu tive, pela primeira vez, a certeza de que eu não podia tudo, que nem tudo dependia de mim e que o mundo não rodava ao meu redor.

As coisas são assim: você vive pensando ser o centro do mundo, vive acreditando que pode mudar tudo a hora que bem entender, que um tempo perdido hoje poderá ser recuperado amanhã. Mas é tudo mentira. Um tempo perdido jamais será recuperado. Tudo o que vc perdeu, jamais recuperará. Se você deixar as coisas passarem, elas nunca voltarão.

Em casa, meu pai, talvez enciumado pela minha tristeza (é, as pessoas sentem ciumes quando você está triste por causa de outra pessoa que não seja ela), rebaixou meus sentimentos, retirou a importância de tudo aquilo pra mim. Falou coisas maldosas. Me lembro de ter dito algo como "estes drogado e gay..." e lembro de eu ter respondido descabidamente mas desesperadamente: "ele me ensina mais do que você; ele é mais importante do que você". É claro que eu nao dizia a verdade, é claro que era uma reação triste contra o desrespeito que estava presenciando.

Comprei todas as revistas que meu dinheiro permitiu. Comprei todos os jornais, gravei todos os programas. Haviam poucas matérias antes da morte, infinitas após. Percebi, neste dia, que a morte era o sucesso, não o talento!

No pior ano da minha vida, fui presenteado com a verdade, nua e crua e eu estava sem ninguém pra me proteger do mundo.

Com o Renato eu aprendi que andaria sozinho por muitos e muitos dias. Que seria solitário quase sempre e que, dificilmente, me sentiria compreendido. Porque o mundo, definitivamente, não é o lugar onde algumas pessoas poderão ser compreendidas pois algumas pessoas não conseguem compreender ou aceitar o mundo onde vivem. Mas eu entendi que existem pessoas como eu por aí.

"De tarde quero descansar, chegar até a praia e ver se o vento ainda está forte e vai
Ser bom subir nas pedras
Sei que faço isto pra esquecer, eu deixo a onda de acertar e o vento vai levando tudo embora..."

Minha revolta, minha fé, minha vontade não mudaram. Só que eu descobri que a morte tira de você as possibilidades que teve e não aproveitou e, muitas e muitas vezes, também tira a possibilidade que não chegou a ter. A ironia disto é que nem sempre somos afetados duramente por decisões que tomamos. às vezes, você não escolhe sofrer!

"Não sou escravo de ninguém
Ninguém, senhor do meu domínio
Sei o que devo defender
E, por valor eu tenho
E temo o que agora se desfaz.

Viajamos sete léguas
Por entre abismos e florestas
Por Deus nunca me vi tão só
É a própria fé o que destrói
Estes são dias desleais."

(Luiz Roberto - 28/03/2010 ~=02:41)

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